Espírito(s) elevado(s)
Dissertações Espíritas
A NOVA TORRE DE BABEL

(Sociedade de Paris, 6 de fevereiro de 1863 – Médium: Sra. Costel)

O Espiritismo é o Cristianismo da idade moderna; deve restituir às tradições o seu sentido espiritualista. Outrora o Espírito se fazia carne; hoje a carne se faz Espírito para desenvolver a idéia gigantesca que deve renovar a face do mundo. Mas à festa da criação espírita sucederão a perturbação e o orgulho dos diversos sistemas que, desprezando sábios ensinamentos, levantarão uma nova torre de Babel, obra de confusão, logo reduzida a nada,porque as obras do passado são o penhor do futuro e nada se dissipa do tesouro de experiências amontoadas pelos séculos. Espíritas, formai uma tribo intelectual; segui vossos guias mais docilmente do que fizeram os hebreus; nós também vimos livrarvos do jugo dos filisteus e vos conduzir à Terra Prometida. Às trevas das primeiras idades sucederá a aurora e ficareis maravilhados ao compreender a lenta reflexão das idades anteriores sobre o presente. As lendas renascerão enérgicas como a realidade e adquirireis a prova da admirável unidade, garantia da aliança contraída por Deus com as suas criaturas.

São Luís

O VERDADEIRO ESPÍRITO DAS TRADIÇÕES
(Sétif, Argélia, 15 de outubro de 1863)

Abri as Escrituras Sagradas e a cada página encontrareis predições ou alegorias incompreensíveis para quem quer que não esteja ao corrente das revelações novas e que, para a maioria, foram interpretadas por seus comentadores de acordo com a opinião que professavam e, muitas vezes, com o seu próprio interesse. Mas tomando como guia a ciência que começastes a adquirir, podereis facilmente descobrir o sentido oculto que elas encerram.

Os antigos profetas eram todos inspirados por Espíritos elevados, mas que só lhes davam, em suas revelações, ensinamentos que só eram compreendidos por inteligências de escol, e cujo sentido não estivesse em oposição muito patente com o estado dos conhecimentos e dos preconceitos daquele tempo. Era necessário que fosse possível interpretá-los de maneira apropriada à inteligência das massas, para que estas não as rejeitassem, como não teriam deixado de fazer se essas predições estivessem em frontal oposição com as idéias gerais.

Hoje o nosso cuidado deve ser o de vos esclarecer completamente e, ao mesmo tempo, vos fazer compreender os paralelos existentes entre as nossas revelações e as dos Antigos. Temos outra tarefa a desempenhar: a de combater a mentira, a hipocrisia e o erro, tarefa muito difícil e muito árdua, mas cujo fim alcançaremos, pois tal é a vontade de Deus. Tende fé e coragem; Deus jamais encontra um obstáculo irresistível à sua vontade. Meios imprevistos serão empregados por suas ordens para vencer o gênio do mal, personificado agora pelos que deveriam marchar à frente do progresso e propagar a verdade, em vez de entravá-la pelo orgulho ou pelo interesse.

É preciso, pois, anunciar por toda parte, com confiança e segurança, o fim, que se avizinha, da escravidão, da injustiça e da mentira. Digo o fim que se avizinha porque os acontecimentos,embora devendo realizar-se com a sábia lentidão que a Providência imprime em suas reformas, com vistas a evitar as desgraças inseparáveis de uma grande precipitação, tenham seu curso num espaço de tempo mais próximo do que o esperam os que se atemorizam com os obstáculos que prevêem, e também num tempo mais breve do que o aguardado por aqueles que, por medo ou egoísmo, estão interessados na manutenção indefinida desse estado de coisas.

Sede, pois, ardentes na propaganda, mas prudentes diante dos vossos ouvintes, não apavorando as consciências timoratas e ignorantes. Só os egoístas não exigem a menor circunspeção nem vos devem inspirar qualquer medo. Tendes a ajuda de Deus; sua resistência, pois, será impotente contra vós; é preciso lhes mostrar sem equívoco o futuro terrível que os espera, por sua própria causa e por causa dos que se deixarem perverter por seu exemplo, pois cada um é responsável pelo mal que faz e por aquele do qual for a causa.

Santo Agostinho

Allan Kardec
R.E. , novembro de 1863, p. 476